terça-feira, 4 de janeiro de 2011

seremos a geração do não, musicialismo.

seremos a geração do não,
musicialismo.
     não perderemos a canção
     nem o cisto. seremos o coração da ação.

nada mais do que isto.
seremos paixão
e abismo.

     seremos qual cisco
colhido em vinténs,
          se espalharão
          além e a quéns.

seremos qual lixo.

     seremos a geração do não.
     tempo de morte e de cristos.
não morrerão
nem nunca estarão vivos.
          seremos a geração
     dos livros
comprados sem razão
          nem visto.

               não nos valerá ninguém. só o silêncio

ou o haver.

          o apocalipse absoluto da forma
          e da poesia.
               não nos valerá ninguém.

seremos
a geração do não, "tempo',
como diria drummond,
'de absoluta de-
puração".

       somos a geração do não.

- o dia em que a terra cair
por cima das tempestades
e o mundo fluir
     sem vãs veleidades.

          o apocalipse de todas as gerações.
                    todas as sanções
do mundo anterior.
só isso
     e basta.
           

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

imensurável

  quando cada
palavra
estiver correta, eu
     paro.


          mas não estão.

manual de atuação de palco - para atores e não-atores

que todas as coisas grandes sejam
deveras grandes:
     exacerbadamente

miúdas.
     sutis.

     para a pessoa
     não há ilusões de si.

apenas gestualidades, - inatas.
circunstâncias.
     ignorâncias convictas e

débeis

          convicções.

     não forces que o homem e
     nem que a mulher
     sejam mais do que são. apenas sê. tanto ou tão pouco quão.

~~~

a tortura, por mais que provoque o sangue,
não sangra. transparece.
reluz.

     quase indelével.
          no entanto,
o céu não enxerga, nem
o púlpito,
     nem o público
     tbm.

é tudo como se sumisse por trás da cortina escura,
     aberta,
     por detrás do palco.
por dentro de si.


(         não forces que se abra ela anterior ao exato tempo.
às 17h30 ou às 9h20.
     o relógio é um aspecto inexato,
     mas o tempo certo
     não;
          ele acerta-se
          medido.     )

~~~

não faças rasuras, borrões,
     nem transliterações
que não
     se exijam.

     a realidade é crua. é pouca.
     exige desesperança
     e simplicidade.

não exijas de ti, ainda, o que não podes
nem do outro o que tu saibas.
tem apenas o domínio,
- não de si.
     apenas o domínio,

o chão,
o palco,
o
voo,

       o éden e o hades
para além da minha e da tua
         compensação.

~~~

não queiras mais do que devas querer
mas tbm não deixes de sonhar além,
preso à atmosfera
única
     de quem tu
és
de agora em diante
e a jamais.
     sê curto e mesquinho,
     mas humano.
     mas doente.
liberto.

~~~

ninguém fala de trás para frente,
não fales tbm.
     ninguém ainda pousa, na vida, para fotografias
     flagrantes, não pouses ainda tu.

ninguém ouve a música senão por ouvi-la. ninguém
crê-la entendida. a música é que atra-
vessa,
     lança,
     ela mais mata
do que fala.
cala-te.

~~~

se puderes quebrar o joelho, deveras,
quebra. mais vale acabar a peça
que não sacrificar,
     - mesmo as tuas partes íntimas, aquelas que temes expô-las.
mesmo as tuas nádegas e o interior de teus dentes,
todo o teu nojo. dá a quem olha o
prazer
          de doer,

imaturamente.

~~~

quem sabe tudo despenque.
não é notório que as hastes derribem-se ao
sopro feroz.
     abandona tudo.
     prostra-te ao chão
e determina o que é teu: o espaço. o teu espaço.

~~~

não chores quando não tenhas lágrima.
é perigoso. te intimida! embora,
não vivas
     senão a vida em ti.
     ela tbm sabe reagir exatamente ao chamamento,
e não o deduzas tu.

é tão triste fadar as coisas a molduras.
elas nem sempre complementam
a tinta.
     às vezes as coisas são aéreas
e serenas.

~~~

se te perguntas, com que cabeça o fazes?,
com que imbecilidades?,
as tuas
     ou as em ti?

agoraemdiante é todo o processo:
não te suicides, por favor!

amanhã te serás novamente, - ou ainda um outro:
ninguém se conhece deveras, nem ao outro.
     quem dera eu pudesse te contar!

~~~

as expressões demais absurdas, nem toda a maquilagem do mundo,
     essas coisas são tão indiferentes diante
da poesia
instantânea
das
forças!
não te faças. sê!

~~~

     olha marília pêra.
     binoches. montenegros. olha
     desconhecidos,
mas olha bem retamente aos olhos
e pro palco. pros pés,
pras pernas
e pros vocais. o que é mais que isso é só o mais.
vive no mais, não lhe faças
o teu todo nem
     teu eu.

não vale a pena.
     o ouro não vende a sinceridade.
     tudo o que brilha
     é pó,
          a não ser o que é plasma,
          o que é estrela.

~~~

por favor, não creias em palavras mortais,
nem os maiores e medíocres elogios.
tem fé

     ou melhor, perde tua fé,
     a não ser que tua fé seja a mesma de quem tu te sejas lá.
as pessoas sorriem por quaisquer banalidades
e a maioria delas é conveniente demais
para entender-te a
     insalubridade.
          deixa-as crer apenas, não te sintas
obrigado
a te explicar.

~~~

e se tudo isso não funcionar.

dorme,
     é bem melhor
     a ti fazê-lo.

~~~

por sobre a amarga distância, pois então,
aproxima-te.
     morre somente quando é necessário morrer.
     antes disso, tudo é vivo,
vibra.

se o coração não aguentar, estoura!
explode!
     teus fragmentos levarão à
morte
     muitos.

     até mesmo os incrédulos. até mesmo os invisíveis
          luzirão!

~~~

da carne, tu tens todo o teu mérito.
tu'alma tbm é pó, - ali,
     não penses tua moral além
     da realidade diária
da vida
e da morte.

e por isso: faze a "chapinha", usa
as tuas lentes multicoloridas;
     mas não tenhas nada com elas, nenhuma intimidade.
     tem nas mãos o mundo e não
a preocupação de o não teres. é tão medíocre não te aceitares
          tanto quanto a morte
     que virá um dia te embalar. sê sábio

     diante das coisas.

~~~

nenhuma leitura é pouca, nem do mundo, nem dos livros.
não é necessário entenderes, mas ver.
aprender.
     qualquer coisa
     pela observação e conservação

da história.

~~~

e quando um momento não tiveres nada,
nem a ti mesmo dentro de ti,
 - e por isso sofrerás -,

     e quando um momento te saberes:

é teu o domínio.
     tu estarás.

e ninguém, ninguém no mundo
te poderá

               jamais

          derrubar.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

deus

ligo-te ao mundo
como uma espera demorada.
     às vezes,
demorada.

     não leveis
     minha mãe nem meu pai.

ligo-te ao mundo
como amor.
     não leveis meu amor!
     tenho medo de ti!

me ajoelho e faço uma prece.
levai minha prece.
     não os meus,

por favor?

domingo, 19 de dezembro de 2010

prefácio

escrevo, com o grão de meus dedos,
minúsculas partículas
minúsculas.

rebúsculas.

obscurezas que eu dou.

     escrevo,
com o grão de meus dedos,
e eu sou.

     - qualquer coisa que não seja escura
nem clara
nem certa nem torta demais.

nem velha.

escrevo, pelas frestas das mesas,
poemas mortais. despencam;

     estrelas.

não temo não tê-las,
leais,
desiguais.

          escrevo, com a ponta dos nervos,
          meus versos praquês
     sem ter
     eu porquês, - com o grão de meus dedos,
     cegamente,     correndo as paredes
     sem poder lhes passar

no entanto,
     por quê?.


     eu não tenho suavidade alguma. eu não tenho verdade,
     nenhuma.
     escrevo,
com o tempo da espuma.

     escrevo, e meus desalentos são todos coisais.


escrevo, com a faca  da rua,
secretas verrugas,

venusas,

meninas doentes e ninfas senis.

eu escrevo como aquele remido,
mêndice, esquálido e fa-
minto. escrevo e
não
qui-lo.

eu não vejo.

     com o grão de meus dedos
escrevo
e não volto atrás.

não volto,
renego e enfureço,
depois eu me deito, me dispo e mevou,
e mevou,
e mevou sem jamais.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

plenamente

pessoas que eu não conheço,
com quem não converso,
     todas em volta de mim. e eu no centro

lateral,
no canto esquerdo
dos fundos,

próximo à porta de saída.

ali, olhei para todos os meios. peguei o carro,
me acidentei contra um muro imaginário
e, paraplegicamente,
     os meus dias
daí

vivi-os todos .plenamente.

     habituais.